quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Visitas em casa



VISITAS EM CASA

Tratamos bem as pessoas que visitam nossa casa, temos esse hábito e o levamos muito a sério, afinal todas as pessoas que conhecemos agem assim, é um costume passado de pais para filhos, e os motivos para que perdure esse costume podem ser dois, ou três: o primeiro seria que, talvez queiramos que a visita leve de nós uma boa impressão. O segundo, provavelmente o desejo de que os visitantes se percebam importantes, respeitados, valorizados por nós. O terceiro, garantir que façam o mesmo conosco.

Uma mulher queixava-se de que o marido não reconhecia o esforço dela em manter a casa limpa e arrumada, pois, segundo ela, ele diariamente chegava do trabalho, tomava água e deixava sobre a pia o copo sujo. Isso a deixava com muita raiva, ela reclamava, tinha vontade de quebrar o copo, mas não adiantava, ele esquecia. Perguntei: você costuma mandar as visitas lavarem os copos ou xícaras que usam? Ela respondeu: “Não! Claro que não.”

No fundo a questão dela não era o copo sujo, o copo era apenas um pretexto para iniciar uma discussão, cujos motivos eram outros, mas aquela mulher jamais mandaria uma visita lavar o copo porque, para ela, seria um desrespeito, seria tratar com desvalor o visitante.

Nas décadas de 50, 60, quando chegavam visitas, a criançada tinha que ficar fora de vista. Tudo era preparado, assado ou cozido para as visitas. Se sobrasse alguma coisa, as crianças poderiam comer depois que todos fossem embora. Às crianças cabia sonhar com duas coisas: crescer ou ser visita.

Hoje as crianças participam, foram valorizadas, integradas de fato à família, mas ainda hoje, em muitas famílias a sala da casa, os móveis, o sofá e utensílios são enfeites a ser preservados para as visitas, para serem exibidos e não para serem usufruídos pelos de casa.

Seria muito bom olharmos para os de casa através das lentes que usamos para olhar os visitantes, e descobrir que perto de nós, morando conosco existem pessoas, seres sensíveis, carentes, que precisam se sentir importantes, respeitados, valorizados e devotar a eles o respeito e valor que são dedicados aos que nos visitam.

Estamos todos de passagem pela vida, mas estranhamente nos esquecemos disso e nos comportamos como se todos fôssemos ficar para sempre. Para sempre é um tempo longo demais e ninguém sabe se amanhã teremos conosco os que amamos no coração, mas não amamos na ação.

Com a lente certa, seremos capazes de descobrir olhos úmidos que precisam ser enxugados com um beijo, mãos estendidas carentes de afeto, corações partidos que precisam ser consertados, compreendidos, e isso perto de nós, dentro da nossa casa.

“Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque, que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece.” Tiago 4.14.